O paraíso é o meu táxi

Em meio a um congestionamento, debaixo de um sol de rachar, com uma passageira chata buzinando lamúrias ao seu ouvido, o taxista estava feliz, pois havia compreendido que o paraíso era bem ali, em Porto Alegre, dentro do seu táxi.
Tudo começou quando o taxista cedeu à pressão da mulher e dos filhos e aceitou passar o fim de semana na casa que sua sogra havia comprado na praia. Para usar a tal casa, claro, o taxista teria que levar a sogra a tiracolo. O primeiro problema foi conseguir enfiar toda a tralha dentro do táxi. Mesmo só para passar o fim de semana, a mulher resolveu levar todo o guarda-roupa, os filhos levaram todos os brinquedos mais o cachorro labrador e a sogra não abriu mão nem da cadeira de balanço. Tudo enfiado dentro do táxi!
Sobrecarregado, o carro ferveu. Foram 5 horas de viagem parando para colocar água no radiador, comprar melancias, criança fazer xixi e sogra vomitar. A chegada na praia, já no fim do sábado, com todo mundo brigando dentro do táxi, foi um desastre. O carro atolou antes de chegar ao portão da casa, que ficava no meio dos cômoros de areia.
Depois de cortar a grama (brejo), Faxinar a casa, enfrentar fila no supermercado, já era hora de dormir. Isso, claro, se os mosquitos deixassem. O taxista passou a noite tentando afastar o zumbido dos insetos de suas orelhas.
Pela manhã, más notícias: ao vomitar, a sogra deixou cair a dentadura na privada. A prótese entupiu o encanamento. Depois de tentar a desobstrução com uma bucha, com soda cáustica e com diabo verde, o jeito foi ir para o sol, abrir a fossa que fica nos fundos da casa. Atolado em fezes até o joelho, o taxista apenas assistia as pessoas indo para o mar. Quando ele, por fim, desentupiu a fossa e preparou-se para ir à praia, a chuva começou...
Foi assim que, depois de ainda enfrentar uma tranqueira no retorno da praia, o taxista voltou ao trabalho e concluiu: O paraíso é o meu táxi.