Neco era um colorado doente. Mais de uma vez ele confessou ter mandado descer de seu táxi passageiros gremistas, que ousaram zombar do seu amado Sport Clube Internacional. Ele não lidava bem com brincadeiras de adversários. Brigava, xingava, não aceitava provocações. Seu time era sua paixão.
Certa ocasião, em meio a um jogo do Internacional, em pleno estádio Beira Rio, Neco passou mal. Foi levado ao centro médico do estádio. Tivera uma elevação da pressão arterial, um pequeno infarto do miocárdio, quase morreu. Foi aconselhado a procurar um médico cardiologista. O especialista proibiu Neco de ir aos jogos no estádio. Nada de torcida, foguetes, multidões enlouquecidas. Ele precisava controlar os nervos. Cuidar de seu judiado coração.
Percebendo a gravidade da situação, Neco passou a acompanhar o time à distância. Desenvolveu um ritual que cumpria à risca toda vez que o Inter jogava. Ele escutava o jogo dentro do seu táxi, estacionado dentro de sua garagem fechada. Sozinho, longe do espocar dos foguetes, da gritaria dos torcedores, apenas ele com sua camiseta vermelha da sorte.
Quando o Internacional entrou em campo para disputar com o Mazembe, um desconhecido time do Congo, uma vaga na final do mundial de clubes, em Abu Dhabi, Neco estava dentro do seu táxi, na garagem de sua casa. Em outros tempos, ele teria atravessado o mundo para acompanhar seu time, mas agora, a milhares de quilômetros de distância, só restava-lhe ouvir a transmissão pelo rádio do carro.
A mulher de Neco, que acompanhava o jogo pela televisão, estranhou quando a buzina do táxi começou a tocar e não parou mais, logo depois que o Mazembe marcou o segundo gol, eliminando definitivamente o Internacional. Ela correu para ver o que estava acontecendo dentro da garagem.
O corpo de Neco jazia inerte, caído sobre o volante. O som da buzina ecoava pela garagem como um último grito de um torcedor que morreu de paixão.
11 comentários:
O personagem, um desses típicos fanáticos inconsequentes, porém o texto exemplar.
um colorado bem estereotípico esse, daqueles cegos de tão fanáticos, que gostam de zoar dos outros depois não aceitam receber o troco... eu acho uma grande babaquice ficar se metendo a querer sacanear os outros e depois querer ser "intocável" como é do desejo de alguns colorados que eu tenho o azar de conhecer...
Ah, esse texto faz equilíbrio com aquele vídeo que mandei pra ti. Melhor rir do que cometer suicídio.
Eu adoro esportes, futebol me prende em casa, mas morrer por causa de um time é doença, meu!
Ô loco!
Abraços gremistas. ;)
Pior que tem gente assim mesmo... talvez seja falta de empatia minha, mas não to nem aí se o "meu" time (grêmio) ganha ou perde, eu não ganho nada com isso. O dia que me pagarem pra torcer, aí será outra história. :P
Isso é serio mesmo ou é só uma historia? Porque se for serio...só posso dizer...trouxa do cara que morreu, deixou a familia e ainda tem que ver (de onde estiver) os jogadores ganharem salarios 10 ou 20 vezes maiores que os pobres mortais que precisam trabalhar 10 ou 12 horas por dia....enfim....cada um sabe como quer terminar com a propria vida....abraços!!!
Outro dia comentei no meu blog que o futebol tomou o lugar da religião. O time virou deus a quem os fanáticos adoram sem restrições e dão dinheiro sem limite. Futebol deveria ser distração, uma espécie de poesia da vida, não o objetivo único. Mas enfim. Cada um sabe de si.
Esse cara exagerou na sua paixão pelo time. Tatuar o brasão do seu time já acho um excesso, e infartar por causa disso, pior ainda.
Mas religião, futebol e política ainda são motivos comuns para originar fanatismo e atitudes extremadas, por isso que esses três assuntos aí não se discute. O fanático não aceita nenhuma contestação da sua escolha.
Ótimo texto para começar o dia, um grande abraço!
Tem gente que exagera nesse negócio de time mesmo ... uma vez , eu vi numa reportagem da rede tv, que um torcedor fanatico , tatoou o simbolo do corinthians na TESTA !!!!!!!!!!!!
Mauro, você é uma das tantas coisas boas que 2010 me trouxe! que seu 2011 seja cheio de boas surpresas!
Belo texto, como sempre. Abraços em 2011!
Gosto do Mauro. Ele segue a boa escola brasileira dos cronistas. Boas estórias vem de incidentes simples do cotidiano.
E atualmente há poucos no ramo dele. Vida longa!
Postar um comentário