Dia desses, aconteceu-me algo estranho. A passageira perguntou se eu podia fazer-lhe uma corrida dali a alguns dias. Coloquei-me a seu dispor. Como estava sem cartão, pedi que anotasse o número do meu celular. Papel e caneta na mão, ela ficou esperando que eu falasse. Foi então que aconteceu: esqueci o número do meu telefone! Número que uso a uns 10 anos!
Deu um branco. Por duas vezes comecei a ditar os números, mas parei, pois vi que não estavam certos. A passageira ficou um tanto surpresa, esboçou até um sorriso, mas se controlou, pois viu que eu estava um pouco transtornado com aquele súbito esquecimento. A cada segundo que passava, eu sentia que minha cara de tonto piorava.
A passageira tentou me tranquilizar dizendo que aquilo era normal, que eu precisava apenas relaxar e tal e coisa, mas aquelas palavras só pioraram a situação. Parecia que eu já tinha escutado aquela conversa antes, dita, talvez, por uma outra mulher, em um outro momento igualmente constrangedor. Tudo que eu consegui balbuciar foi a clássica frase:
- É a primeira vez que isso acontece comigo.
Com a típica calma que as mulheres apresentam nessas horas, a passageira pegou seu telefone e me passou o número, para que eu ligasse para ela. Feito isso, o número do meu celular apareceu na tela do aparelho. Pronto. Pausadamente, ela falou o número do meu telefone, para refrescar minha memória. Enquanto falava, procurei em seu olhar algum sinal de deboche, mas não achei nada. Alguma compaixão com minha caduquice precoce, talvez, mas isso era de se esperar.
Isso aconteceu há alguns dias. Desde então, venho esperando pela ligação daquela passageira, mas ela não chega. Mais do que perder a corrida, o que me atucana é pensar que ela talvez tenha ligado para outro taxista. Alguém mais jovem, mais esperto, com um táxi mais potente...
Droga! Preciso dar um jeito de fazer uns cartões.
14 comentários:
Texto excepcional, muito bom doutor!
Até mais.
Já aconteceu comigo! O perigo é quando se faz os cartões, e não lembramos onde colocamos....srsrs
Forte abraço
kkk Muito bom. Pelo menos a passageira era do tipo compreensiva.
Ótimo texto, adorei! O trecho com a duvidosa ambiguidade, o equilíbrio entre o cômico e a "crise" do taxista, ficaram perfeitos! E o taxista deu sorte com a passageira, ela provavelmente não ligou com medo de ficar perdida pelo caminho do endereço...kkk :)
hahahaha, algo me diz que essa passageira era muito gostosa e deixou o taxista nervoso... :P
Nessas situações, quanto mais o cara tenta agarrar a lembrança, mais forte ela se debate para escapar. E acaba sempre ganhando.
Da mesma forma, se eu perder a agenda do telefone, não sei mais o numero de ninguém, fico incomunicável. É a dependência da tecnologia.
Eu ainda me lembro de quando não existiam celulares, somente telefones fixos (com discador rotativo) e você só conseguia falar com alguém se pegasse ele em casa. Naquela época se vivia muito bem, e hoje muitos não vivem mais sem o celular. E por aí vamos. Daqui á pouco vão lançar celulares de implantar na caixa craniana do indivíduo, pode esperar!
No mais, ótimo texto! Um grande abraço!
Mauro, tenho uma cara especial para dizer o número de meu celular. Fecho os olhos e me esforço. Nada demais. Se não estiver ligada a trabalho, como é seu caso, por que preciso lembrar de um número para o qual nunca ligo?
Esquecimento precoce é piada, né? Porque esquecemos mais de 70% de tudo o que nosso cérebro registra desde que nascemos. Ainda bem!
Por acaso você está estressado, precisando de uns banhos de mar? Ou está tomando remédios? Alimentação em ordem?
Então relaxa, vizinho. Tem sempre uma primeira vez e como se diz nessa(e naquelas) ocasiões: você não precisa me provar nada! Frase salvadora.
Abração
Esse tipo de coisa acontece comigo às vezes! hahhaha
Interessante seu blog, histórias diferentes.
Abraço
Hahaha... Apesar de tudo é engraçado!
Outro dia me aconteceu algo assim, mas não foi esquecimento. Eu troco os números todos: documentos, telefones e etc.
Passei na locadora pra pegar um filme e o atendente me pediu meu cpf aí falei os números pra ele só que não estava batendo com o número cadastrado...
Quando me dei conta eu tinha falado o número do celular. hahahaha Fiquei com cara de tacho.
No mínimo passou pela cabeça dele que eu estava dando uma cantada ou coisa do tipo. Pior que nem bonito ele era tadinho... Se fosse, poderia até ser um pretexto.
Hahahaha
Brincadeirinha... sou casada e não saio por aí dando meu telefone a qualquer um...
Hahahaha
Abraços!
Gostei das analogias que ficaram nas entrelinhas. Ou seria entre quatro paredes...(rs)
Também tenho meus lapsos de memória.
Sinapses incompletas, neurônios meio destrambelhados...
Ótimo texto, como é de costume.
Abraço.
Ricardo Mainieri
Isso é culpa dos dias de hj, eu tenho 24 anos e esqueço tudo!! Bem comum com a qtde de informações que recebemos todos os dias! bjoss
Mauro, quanto tempo! Texto perfeito, Fácil de ler, bom de degustar (sabor limão?) com o seu tranquilo e excelente bom humor, sempre característicos nos seus textos e na sua pessoa! Há Braços, meu amigo. Mudei de empresa, e ela não vai a POA. Assim, vai demorar um pouco até que eu te faça uma visita.
Marcus.
Eu tinha pensado um post muito interessante pra pôr aqui,mas quando comecei a digitar...me esqueci.
Abrs. Belo texto.
kkk, " - É a primeira vez que isso acontece comigo ", muito bom.
Acho que voce esta precisando de uns cartoezinhos azuis, meu camarada, rsrsrsrsrsr
Postar um comentário