domingo, 26 de setembro de 2010

Trabalho na cabeça

Nunca se viu um taxista que trabalhasse como aquele. Era o primeiro a chegar no ponto, antes mesmo de o dia raiar. No fim da tarde, os motoristas passavam os carros para os colegas da noite, mas ele continuava trabalhando. Não dividia o táxi com ninguém, trabalhava sozinho, desde a manhã até perto da meia-noite. O patrão adorava-o. Um empregado como nenhum outro. Não reclamava, não perdia o serviço.
Mesmo trabalhando como empregado, o taxista tinha planos de comprar seu próprio táxi. Fazia as contas, achava que era possível, desde que seguisse trabalhando com afinco e gastando o mínimo possível. Para tanto, alimentava-se dentro do carro mesmo. Comprava um pacote de bolachas e um litro de refrigerante e ia comendo no decorrer do dia.
Era casado havia alguns anos, mas tinha combinado com a mulher que não teriam filhos por enquanto, por medida de economia. Os raros passeios que faziam, pois ele também trabalhava aos fins de semana, eram para visitar a sogra, um ou outro domingo que o serviço estivesse mais fraco.
Certo dia, o taxista sentiu-se mal. A má alimentação, o excesso de carga horária o estavam levando à exaustão. Acabou indo para casa mais cedo. Já era noite, mas a mulher parecia assustada em vê-lo uma hora daquelas em casa. Ele a tranquilizou, disse que precisava apenas descansar. Foi direto para a cama.
Pela manhã, ele sentia-se confuso. Achava que tinha levado horas para pegar no sono. Parecia ter sentido seu lado da cama quente, o travesseiro amarrotado e, por isso, ficara acordado por um longo tempo. Imaginando que ele já tivesse dormido, sua mulher parecia ter levantado para abrir a porta do armário, como se alguém precisasse sair de lá...
Mesmo sem saber se tudo tinha realmente acontecido ou não passava de um sonho, o taxista achou melhor dar um tempo no plano do táxi próprio e tratou de cuidar melhor da sua jovem esposa.

9 comentários:

Anônimo disse...

Melhor cuidar...do que remediar! As cicatrizes demoram desaparecer. A "fama" nunca mais desaparece!

Caminhante disse...

Totalmente genial!

julio - o atormentado disse...

Como diz o Mano lima, "vai cuidar tua lixiguana que os pica-pau tão furando"...
E o Gavião Bueno também diz: "É amigo, quem não faz, leva"!
Há braços caro amigo Mauro! Show de bola, como sempre!

Ane Brasil disse...

huahauhauhauhauha
é por isso que, em épocas de muito trabalho, nego véio e eu temos um acordo: a gente chega assobiando... isso quando não liga antes hehehehe
è justamente pra evitar esse tipo de incidente hehehe
sorte e saúde pra todos!

Ricardo Mainieri disse...

Teve um causo da criatura que chegou em casa e encontrou um rapaz de cuecas na cozinha fritando um ovo.
A mulher disse que era um primo que vinha em busca de emprego na Capital.
Homem de boa índole, correu aos Classificados para recortar ofertas de emprego.
Coitado, quando virou as costas, o primo pouco educado já tinha ido embora.
O ingênuo no outro dia narrou a estória na firma.
Desde então, não suporta quando algum colega começa a falar de ovo frito...
Pior, Mauro, que é verdade!
Bela crõnica, como sempre.

Abraço.

Ricardo Mainieri

Anunciação disse...

Como eu mesma sempre digo,Vixe!

Anônimo disse...

Pra que nascemos afinal, não é? Planos e trabalho ou prazer e alegrias?
Xi, que hora pra isso!
Abraço, vizinho.

Alexandre RJ disse...

Muito boa... e o cara com a melhor das intenções! Sera que foi sonho ou foi pesadelo?

Dalva M. Ferreira disse...

Absolutamente perfeito. Perdeu a graça, você já é perfeito, pra que elogiar??? Invejinha...