Tensão Pré-vistoria

Hoje, rodei, exatos, 187 km no meu táxi. Cento e oitenta e sete quilômetros em cerca de onze horas de trabalho. No pára-e-arranca. Sem sair do perímetro urbano de Porto Alegre. Praticamente, não sai de dentro do carro nesse tempo todo. Foram uns vinte minutos de almoço, uma ou outra levantada para atender ao telefone do ponto, para abastecer o táxi. De resto, foi dirigir. Estou moído.
O trabalho em um táxi não é o pior serviço do mundo, eu sei, mas tem lá seus problemas. O ser humano não foi projetado para passar o dia todo sentado. A coluna se detona, as pernas atrofiam, a barriga cresce, a bunda achata. Tendões inflamam com o esforço repetido, o nariz fica irritado com a poluição, os ouvidos cheios com os problemas dos outros...enfim: aquilo tudo que vocês imaginam.
Não bastasse tudo isso, fiquei sabendo de um taxista que sofre com uma doença ainda não registrada nos livros de medicina. Trata-se da "Tensão Pré-Vistoria". Quem diagnosticou o problema e me relatou os sintomas foi a mulher deste meu colega. Segundo ela, o marido fica insuportável nos dias que precedem a vistoria mecânica pela qual todo táxi de Porto Alegre tem que passar periodicamente.
Ela contou que, à medida que vai se aproximando o dia da vistoria, o taxista torna-se irritadiço, nervoso, impaciente, chegando, inclusive, a perder o apetite sexual, tamanho o grau de ansiedade. O homem tem pesadelos em que o táxi cai da rampa de vistoria. Ele passa por momentos depressivos, prisão de ventre, cefaleias. Tudo até que o agente da EPTC cole o adesivo de aprovado no para-brisa do táxi.
Portanto fica a dica, amigo passageiro. Da próxima vez que usar um táxi, procure reparar em um pequeno adesivo azul, no canto superior direito do para-brisa. Ele indica a data da próxima vistoria. Caso o dia esteja chegando, cuidado com o taxista: ele pode estar na TPV.