A primeira impressão que tive do casal que fez sinal para meu táxi não foi muito boa. O homem segurava um latão de cerveja em uma das mãos e um cigarro em outra. Olhos inchados, cabelo desgrenhado, parecia bêbado. A mulher que o acompanhava estava encostada em um poste, cabeça jogada pra cima, olhos fechados, parecia cansada. De qualquer forma, parei.
O homem realmente estava meio grogue. Antes de embarcar, apoiou-se na porta do táxi e perguntou se podia entrar com a bebida. Exigi apenas que descartasse o cigarro. Depois de uma última tragada, jogou o cigarro fora e embarcou na frente. A mulher jogou-se no banco de trás, como quem dá graças a deus por alguém ter parado para eles.
O Homem deu o destino: um motel. Ele era do tipo que fala pelos cotovelos. Disse que era paulista, mas que vinha muito a Porto Alegre. Adorava a cidade, principalmente pelas mulheres. Não conhecia outra cidade com tanta mulher gostosa. Entre um gole e outro de cerveja, falou que sempre se dava bem com as gaúchas, que tinha várias histórias de conquistas no sul. Disse que a "mina" dele em São Paulo desconfiava, mas que não dava bola, pois sabia que ele era mesmo "pegador".
Enquanto o paulista contava vantagem, sua companheira, no banco de trás, parecia dormir. Melhor assim. Ela estava longe de ser uma deusa - um pouco acima do peso, cabelo descuidado, mais velha que ele - mesmo assim, eu me perguntava o que faz uma mulher sair com um tipo insuportável como aquele.
Um pouco antes de chegar ao motel, a mulher deu sinal de vida. Pediu que eu parasse em um posto de combustível. Ela passou uma nota de R$ 10 ao companheiro, para que comprasse mais cerveja. Assim que ele entrou na loja de conveniência, a mulher ordenou que eu arrancasse o táxi. Deu o endereço da sua casa e voltou a fechar os olhos. Deixou o paulista namorador falando sozinho.
18 comentários:
Pô, este vai ficar um bom tempo traumatizado com Porto Alegre, hem?
Abraços!
Ótimo! Mulher esperta!
Hahaha!!!
As artimanhas femininas, imabatíveis!
E os dois certos que ela estava dormindo no banco de trás...
Nunca subestime uma mulher!
Abraços!
adorei a decisão da sujeita! nota 10!
o conto, como de costume na sua escrita, muito bem organizado na narrativa e cativante ao leitor. parabéns, mauro!
Tem paulista que não se enxerga.
Antes, o número deles era maior!
(Ou, será que continua o mesmo...)
:)
Hihihi, imagino a cara do senhor quando saiu da loja e se apercebeu que o haviam deixado para trás, rsrs. Um óptimo dia para ti. Beijinhos
bem feito para esse bebado ótário.
Mauro, às vezes, estes acontecimentos no teu taxí, me lembram de um taxista do filme Mulheres à beira de um ataque de Nervos, do Almodóvar.
O carro do sujeito era uma mistura só, uma parafernália de coisas e os passageiros que ele embarcava dariam várias estórias aqui no pedaço.
Gosto destas tramas em que os malandros, contadores de "marra", se dão mal. Até tenho uma em que um sujeito perde o voo para Porto Alegre, hipnotizado pela voz da moça dos informes do aeroporto.
No final, a moça não era tão moça, assim, e só restou ao vivente perguntar aonde era o banheiro...
Boa crônica, como de costume.
Abração.
Ricardo Mainieri
Gordinha, desgrenhada, mas de miolos em dia. Imagine os cálculos que ela fez: cheio de cerveja, fedido de cigarro, papo furado. Só ia dormir mesmo!
Sabe o ditado: antes só que servindo de bengala, meu!
Abração.
Ah os links adotarão o "target, etc..." pra facilitar tua preguiça. O link lá é automático, mas vou tentar driblar a minha preguiça e entrar na escrita de vez em quando.
Primoroso, como sempre!
Perfeito!A cada post tu te superas.Parabéns!
Ha ha ha! Lindo!
Esse paulista nunca deve ter ouvido os Nouvelle Vague com a cover intitulada Too Drunk to Fuck, original dos Dead Kennedy's ( Bêbada demais para foder). Ouçam aqui: http://www.youtube.com/watch?v=Hapufz1NFkY
Adoro as vinganças femininas! Parabéns :*
hahahaa
baita malandra!
Pelo menos conseguiu voltar à vida a tempo...
divertido o blog.
ÓTIMA!
Impressionante! Me gastei de tanto rir deste otário, mala!
Bem, como paulista, tenho que sair em defesa dos meus conterrâneos, rs. Ser de São Paulo não significa própriamente ser paulista... rs A esperteza dela foi proporcional à babaquice dele. Sem dúvida a história é ótima, cheia de moral feminina e para a reflexão masculina, principalmente desses babacas(se é que babaca "reflete"), dos quais o mundo está cheio .
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