Ingênuos taxistas

Como já dizia a canção, a dúvida é o preço da pureza. Hoje em dia, existe pouco espaço para dúvidas. Em dois ou três cliques no computador, tudo está respondido. É a vitória do conhecimento, ótimo, mas a pureza (cá entre nós) tem lá sua graça.
Minha colega Pikachu foi para a praia e deixou sua irmã, Gisa, que é professora, trabalhando no táxi. Como Gisa não conhecia nada das ruas de Porto Alegre, Pikachu deixou-lhe um daqueles guias telefônicos enormes, que continha o mapa da cidade. Gisa andava pra cima e pra baixo com o tal guia. Mesmo assim, volta e meia, a professora se atrapalhava e ligava para a irmã:
- Eu estou na rua tal. Como faço pra voltar para o Menino Deus?
Com o mar lambendo-lhe os dedos delicados, Pikachu revirava os olhos, ajeitava-se na cadeira de praia e explicava o caminho das pedras à irmã. No entanto, depois da décima ligação, Pikachu mandou Gisa comprar um GPS e desligou definitivamente o celular.
Se o problema da Gisa era a falta de conhecimento, o mesmo não se pode dizer do experiente Chico Dedinho, taxista do ponto de táxi da PUC. Puro de coração, Chico peca pelo excesso de ingenuidade.
Disposto a perder alguns quilos, Dedinho habituou-se a caminhar em volta do campo de futebol que há ao lado do ponto. Disciplinado, ele girava uma boa quantidade de vezes pela borda do campo, sempre no sentido horário.
Um belo dia, um colega de ponto perguntou para Chico Dedinho se ele estava caminhando para emagrecer ou para engordar. Ele respondeu que caminhava para emagrecer, claro, ao que o outro, de sacanagem, sentenciou:
- Mas Chico, tu estás caminhando no sentido horário, que é para engordar. Para emagrecer, tem que caminhar para o outro lado!
Não se sabe se Dedinho acreditou ou não. O fato é que, daquele dia em diante, passou a caminhar no sentido anti-horário. E o pior: emagreceu que foi uma beleza!