A cena parece bonita: Dois homens e uma garota ajudam uma idosa a embarcar no meu táxi. Cada qual quer ser mais gentil. A velhinha sofre de algum problema de circulação nas pernas, que as deixam grossas, escuras e com pouca flexibilidade. Apesar de tudo, ela mostrava-se simpática. Enquanto seus ajudantes colocam suas pernas para dentro do carro, pega meu braço e pergunta meu nome. Sempre com um sorriso de porcelana nos lábios.
Ela é uma passageira conhecida dos motoristas mais velhos do ponto. Meus colegas dizem que, depois que viuvou, costumava contratar um táxi para levá-la ao litoral e voltar no mesmo dia, apenas para molhar os pés no mar. Fazia corridas também para Ipanema, na zona sul da cidade, onde convidava o taxista para acompanhá-la na mesa de algum bar enquanto tomava um chope e assistia ao pôr do sol no Guaíba. Desfrutava de saúde e de uma boa pensão que o marido lhe deixou.
Mas as coisas mudaram. Vão longe os tempos das vacas gordas. Hoje em dia, são raras as vezes que ela sai de casa. Basicamente, é levada uma vez por ano a um quartel, para provar que está viva e continuar recebendo sua pensão. De resto, limita-se a assistir a vida passar pela janela.
Nesta corrida, ela está acompanhada de seu filho, de sua neta e de um genro. Todos moram com ela, vivem às suas custas - inclusive o genro, já separado da sua filha. A pensão da velha garante a dedicação de seus "cuidadores". Eles passam a corrida toda tentando convencê-la de suas necessidades de consumo.
O filho diz que precisa trocar de óculos, a neta quer um novo jogo de cordas para a guitarra e o genro está de olho em um notebook. Enquanto o filho reclama do pedido muito caro do genro, a neta coloca fones nos ouvidos e passa a agitar a cabeça.
Mas a velhinha não lhes dá ouvidos, limita-se a mastigar a dentadura enquanto aproveita seu passeio anual.
14 comentários:
Que triste.
Dói.
Nossa, como existe gente inútil nesse mundo.
Mauro, conheço uma turma assim.
A velha senhora tem uma gorda pensão a qual junta com uma aposentadoria de serviço público.
O filho e a nora vivem parasitariamente às custas da senhora que foi, já faz algum tempo, internada em uma clínica geriátrica.
E, aí de insinuar alguma coisa do comportamento deles. Ambos possuem uma banca de advogados prontos a expedir processos de calúnia e difamação...
Triste, mas real.
Ricardo
Uma das coisas que me deixa mais indignada é a exploração de pessoas idosas. A história é muito triste.
Vejo isso dentro de casa. É uma m**. Por isso que sou da opinião que pra filho a gente deixa estudo e deu.
Castro irmão... eu li a historia vislumbrando a seguinte cena: um ser humano cercado por um grupo faminto de hienas...
abraços e boa semana.
Que situação, hein?? essa é bem verídica.... infelizmente.
O assunto é amargo, mas a sua pena é leve. Muito bom, caro Mauro, você é um poeta enrustido.
conheço um cara que tem umas irmãs desse tipo, que não fazem p0rra nenhuma para ficar só explorando a mãe, uma idosa que a alguns anos só tem saído de casa para ir em clínicas e hospitais...
É difícil tolerar pessoas assim. O catigo virá a cavalo. Tomara que ela gaste tudo o que tem antes de partir e que fique a ver navios ese bando de inúteis.
Por outra banda, é preciso nao criar monstros, cortar já na primeira, dizer a não a filhos, irmãos, netos e similares de vez em quando garante nossa dignidade.
Concordo: as prais daqui são mais bonitas que as do Uruguai. E nem conheço as de lá!
Abração.
Crítica cortante.
Nana linda demais!!!!!
Postar um comentário