Aos sobreviventes do natal

Se você está lendo esta post, parabéns: você está vivo.
Eu, que trabalho na rua, no trânsito, transportando pessoas pra lá e pra cá, vi muita loucura neste natal. Correria, stress, xingamento. Um deus-nos-acuda. Um passageiro me confessou que, nesta época do ano, tira da gaveta um revólver que passa o ano todo guardado. Ele tem mais medo das festas de fim de ano do que dos bandidos em si!
Mas o natal passou e agora é a vez do Ano-Novo, do reveillon, o momento da virada. Hora de deixar os problemas de um longo ano para trás e comemorar. Muita festa, muita bebida, viagens, foguetórios, correrias de última hora. É preciso entrar no clima!
O fim de ano é um momento de renovação da esperança. Parece uma frase batida, mas, para alguns, é a mais pura verdade.
Esta semana, carreguei um passageiro muito debilitado, com dificuldade até para embarcar no táxi. Ele contou que tem um problema cardíaco grave. Disse que, depois de muitos tratamentos mal-sucedidos, entrou na fila dos transplantes. Mas suas expectativas não são boas. Falou que os médicos lhe deram dois anos de vida, ele é o décimo oitavo na fila, e o hospital realiza, em média, três transplantes por ano. É só fazer as contas.
Mas uma outra passageira, funcionária do Hospital do Coração, contou-me uma outra faceta dessa história. Ela afirmou que nesta época de festas de fim de ano aumenta bastante o número de mortes violentas, por acidente, homicídios, suicídios. Ou seja: aumentam os órgãos para doação. A fila anda. A ponto de pacientes ficarem de sobreaviso ou mesmo se internarem no hospital à espera de uma "boa notícia".
Este é meu último post do ano. Lamento que tenha saído um tanto mórbido. Desejo ao caro leitor deste blog um Ano-Novo cheio de amor, alegria e alguma reflexão. Não deixe de comemorar, mas tome cuidado. Por exemplo: se beber, vá de táxi!