Caio F., Paula Dip e eu

Passando pela livraria Saraiva, encontrei, meio sem querer, o livro de Paula Dip, sobre Caio Fernando Abreu: “Para sempre teu...Caio F.” (Ed. Record). Lembrei que havia dado um depoimento para a autora, há muito tempo, por e-mail, sobre meu rápido convívio com o escritor, que morava perto do meu ponto e foi meu passageiro. Peguei o livro e encontrei meu testemunho. Fiquei lisonjeado em colaborar com a obra, que conta também com depoimentos de gente menos conhecida como Miguel Falabella, Joyce Pascowitch, Lya Luft, Ney Matogrosso entre outros. Está lá, na pág. 432:

(...) quando Caio percebeu a proximidade da morte passou a dar valor às pequenas coisas, abraçou a vida, as pessoas, deu voz a novos personagens, sem os quais não saberia viver. Um deles foi o taxista Mauro Castro, cujo ponto era perto de sua casa e que o levava diariamente à radioterapia. Mauro conheceu um Caio já debilitado pelos efeitos da doença, mas não sem o desejo de estimular um novo escritor. Mauro conta:

Eu sempre gostei muito de ler, em geral exemplares se segunda mão, comprados nos sebos do centro da cidade. Tenho poucas lembranças das corridas que fiz para o Caio – o teor dos diálogos não sobreviveu ao passar do tempo -, mas lembro perfeitamente que ele logo notou os livros que eu levava sobre o painel e que, provavelmente, me tornaram um taxista especial aos olhos do meu ilustre passageiro. Ele gostava de andar no meu táxi e queria sempre saber o que eu estava lendo. Se ele se decepcionava com meus Robin Cooks e Sidney Sheldons nunca deixou transparecer. Alguns dias após a morte do Caio, encontrei, num sebo, um exemplar em bom estado de Morangos Mofados. O livro habitou o painel do meu táxi por um bom tempo, como um farol, clareando o caminho para novas leituras. Desde então, abandonei os best-sellers importados, passei a apreciar o texto mais curto, mais urbano. Uma prosa que tivesse mais a ver comigo, mais próxima, mais íntima. Procurei autores que tivessem um jeito mais, digamos, “Caio Fernando Abreu” de escrever.

Mauro, que hoje é cronista e assina uma coluna semanal num grande jornal da cidade, passou a acompanhar atentamente os textos que seu passageiro famoso publicava e no lançamento de Ovelhas Negras, em 1995, levou-o até a frente de um outdoor que a editora exibiu para divulgar o livro. Caio não gostou da propaganda, achou excessiva: “Livro não é sabão em pó”, decretou. (...)