Eu perdi as contas de quantas corridas fiz hoje. Vinte e tantas, acho. Corridas inocentes, para passageiros honestos, comuns, que só queriam ir de um lugar ao outro. Se eu não houvesse anotado, nem lembraria deles.
Uma garota que procurava uma rua que nem no mapa existia; um rapaz que veio do interior para trabalhar como vigia na capital; uma senhora indo ao cemitério visitar o túmulo do ex-marido; uma psiquiatra às voltas com um paciente violento; um velhinho indo para o hospital com uma bolsa de colostomia pendurada na cintura; uma professora estressada por ter perdido o livro de chamada com todas as notas dos alunos; uma promotora de uma conhecida grife de lingeries, que me confessou preferir as roupas íntimas da marca concorrente; três ingleses bêbados falando, pelo que entendi, maravilhas da caipirinha brasileira; um corretor de imóveis procurando a casa ideal para seu cliente; uma senhora que ganha a vida cuidando da viúva do seu ex-amante; uma mulher dividida entre pagar os R$ 200 que o marido gastou bebendo cachaça ou comprar um novo celular; uma velhinha que falava muito e não me escutava; um colecionador de carros antigos procurando um retrovisor de Corcel; uma mulher preocupada com a gripe A, que exigiu que eu abrisse as janelas do táxi e usava um gel para desinfetar as mãos; um homem indo para uma aula de reciclagem, pois teve a carteira de motorista cassada; um funcionário público falando mal do governo; um engenheiro indo para o aeroporto; e tantos passageiros que não falaram nada.
Semana passada, um jovem taxista levou um tiro no peito e morreu. Viamonense, como eu, Fábio tinha 27 anos e deixou a mulher grávida de nove meses... Difícil aceitar.
A porta do táxi está sempre se abrindo para estranhos. Faz parte do jogo. Não há como saber se o passageiro é mesmo honesto, se a corrida é mesmo tão inocente.
14 comentários:
Sinto muito pelo Fábio.
Considero a profissão de taxista uma das mais arriscadas, justamente por causa dessa sua observação: A porta está aberta para todo mundo e nem todo mundo é honesto.
Excelente semana para você!
As histórias da vida real nem sempre são engraçadas.... Gostei de ver o Taxitramas agora com fotos!!!
De fato, é lamentável... claro que ninguém sabe se voltará vivo depois de sair para um dia de trabalho, mas com certeza vcs taxistas estão muito mais expostos, infelizmente.
Coragem, e sem desânimos!
Que tristeza Mauro...temos que pedir a Deus para nos proteger sempre.Uma ótima semana pra vc e todos os taxistas.Realmente é uma profissão de muito risco e sem proteção(sómente a de Deus)Beijo.
O link do Justin é com programação ao vivo mesmo?
Sucesso!
Que dó!Coitado.Deus proteja a vc e a todos que trabalham com esses riscos.
Realmente a vossa profissão tem um enorme risco e vocês vivem sempre na incerteza daquilo que vai acontecer!!!
Aqui por Portugal também temos muitos assaltos e mortes de taxistas! Infelizmente é o mundo que temos
Muito, muito injusto isso!
Costumo dizer que acredito em vida após a morte, vidas passadas, essas coisas...
Mas tem momentos que duvido até mesmo de Deus.
Este é um deles.
Essa é a profissão na qual dizemos l-i-t-e-r-a-l-m-e-n-t-e: isso é que é viver perigosamente!
Hugs
Que Deus nos proteja a todos.
Oi, Mauro.
Triste o que aconteceu com o jovem taxista. A violência nos cerca, e o que podemos fazer é pedir proteção ao quê acreditamos e tocar em frente.
A Vida Segue e eu particularmente, acredito que de diversas maneiras.
Beijos mil e Fique Bem e no Bem!!!
Salve Mauro
Realmente muito lamentável. Assim como aconteceu com ele, aí nos lados gaúchos, cá na capital paulistana também sofremos os riscos do negócio. E pior que tenho escutado que taxistas andam se aventurando nesse tipo de crime. Que tristeza hein... Mas enfim, seguimos em frente e toquemos o barco.
Abraços
... faz mesmo parte do jogo.
Cuide-se bem, Mauro.
Eu vi isso no noticiário e somei minha tristeza à preocupação contigo e com todos os demais da profissão.
Abraço.
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